Além do pré-sal: o potencial do onshore brasileiro

Mercado > Economia
ATUALIZADO EM outubro 2019

O Brasil tem uma geologia privilegiada. Além de ter uma das maiores reservas de petróleo no mundo localizada no fundo dos oceanos, o país tem um imenso potencial em terra. Atualmente responsável por 8% da produção nacional, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o segmento onshore não apenas pode crescer como se mostra crucial para levar desenvolvimento regional e local ao interior do país.

Algumas ações vêm sendo tomadas para reativar a declinante produção em terra – nos últimos dez anos, a queda foi de 50%, aponta a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Parte delas está concentrada no Programa de Revitalização das Atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres – Reate –, do governo federal. Entre as medidas já adotadas está a redução da alíquota de royalties do petróleo, de 10% para 5%, sobre a produção incremental de campos maduros. Hoje, mais de 70 municípios brasileiros recebem royalties do petróleo e gás natural de campos maduros e marginais.

A nova alíquota pretende estimular investimentos no aumento do fator de recuperação dessas áreas – ou seja, na quantidade de óleo produzida em relação às reservas totais de um campo. Cada ponto percentual de aumento do fator de recuperação médio no país equivale a 200 milhões de barris de óleo equivalente de novas reservas que se tornam economicamente viáveis.

Oferta permanente e desinvestimento

A implantação do sistema de oferta permanente, que permite a aquisição de áreas fora de leilões, é outra ação positiva. Hoje, a maior parte (80%) dos blocos e campos nesse regime são onshore . A ANP espera tornar disponíveis as 2 mil áreas das duas ondas do sistema de oferta permanente até o fim de 2019.

Outro ponto tido como essencial para destravar a exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil (E&P) em terra é a venda de ativos da Petrobras. Nos EUA, por exemplo, muito antes da revolução do shale gas e do tight oil, o onshore se manteve à medida que pequenas petroleiras compravam campos maduros e faziam investimentos para incrementar a produção.

A Petrobras colocou à venda 69 ativos onshore e águas rasas, em um projeto chamado Topázio. A empresa já sinalizou ao governo que pretende concluir esse desinvestimento em meados do próximo ano, mas o ritmo está aquém do esperado. Até outubro, apenas o campo de Azulão, na Bacia do Parnaíba, havia sido vendido com sucesso, para a Eneva.

Gás como impulsionador onshore

O gás natural tem sido outro fator impulsionador do onshore, com o modelo de negócios reservoir-to-wire, aplicado pela Eneva. O sistema consiste em instalar uma termelétrica próxima ao campo produtor ou à infraestrutura de escoamento desse campo e produzir gás somente quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) solicitar a energia da usina.

Vale lembrar que o gás mudou o mercado onshore dos EUA, com a técnica de fraturamento hidráulico nos folhelhos, tipo de rocha rico em gás. No Brasil, órgãos estaduais e reguladores ainda discutem a segurança da técnica. Mas, diante do fato do gás ser uma das fontes de energia de transição para uma matriz energética mais limpa, a tendência é que essa discussão avance e esse potencial possa ser aproveitado.

*Essa matéria foi produzida durante a Rio Oil & Gas 2018