O paradoxo da indústria de petróleo e gás: vagas em alta, profissionais em falta

Setor
Publicado em 3 de outubro de 2025

Setor busca atrair jovens e reter especialistas diante de um déficit que já chega a 20% da mão de obra qualificada.

A indústria de petróleo e gás enfrenta um paradoxo: em meio à pressão pela transição energética e pela busca de eficiência, cresce a demanda por profissionais altamente especializados ao mesmo tempo em que falta gente qualificada para ocupar essas vagas. O problema não é exclusivo do Brasil, mas o país desponta entre os mais afetados.

Um estudo da FGV Energia projeta que o setor precisará de 250 mil novos trabalhadores até 2030. Já uma pesquisa da Abespetro, em parceria com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), mostra que a carência atual já chega a 15% a 20% da força de trabalho qualificada, sobretudo em serviços especializados.

Grande parte da pressão vem do envelhecimento da mão de obra. Muitos profissionais experientes se aproximam da aposentadoria, levando consigo décadas de conhecimento acumulado. Ao mesmo tempo, a velocidade da transformação tecnológica exige novas competências que a formação tradicional não cobre. Some-se a isso a concorrência com setores como tecnologia e energias renováveis, que atraem jovens com a promessa de inovação e impacto sustentável.

Convencer esses jovens a entrar em uma indústria ainda estigmatizada é talvez o maior desafio de uma indústria fundamental para que a transição energética para uma economia de baixo carbono aconteça sem solavancos. “O setor de petróleo é visto como uma contradição com a visão de mundo dos jovens. O jovem olha para essa indústria como se fosse do século passado, sem saber que alguns dos projetos mais inovadores em robótica no Brasil têm a ver com a indústria do petróleo”, diz Alfredo Renault, CEO do Centro de Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono da Coppe/UFRJ.

Segundo Renault, o problema não é apenas estrutural, mas setorial e conjuntural. Todas as transformações na sociedade e a expectativa da juventude sobre sua relação com o trabalho colocam o petróleo numa posição distante na lista de desejos dos jovens profissionais.

Apesar da resistência, o setor segue oferecendo oportunidades de inovação e remuneração acima da média nacional. Engenheiros de petróleo e geólogos iniciam a carreira com salários entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, que podem ultrapassar R$ 30 mil com experiência. Técnicos de operações, que exigem formação mais curta, partem de R$ 3 mil a R$ 5 mil, com potencial de chegar a R$ 10 mil.

As transformações recentes também abriram espaço para novas funções. Cientistas de dados se tornaram essenciais para interpretar grandes volumes de informações e prever falhas em equipamentos. Engenheiros de robótica avançam com a automação de plataformas offshore. Especialistas em energias renováveis integram projetos de diversificação da matriz energética das petroleiras.

“É uma indústria em plena transformação. O profissional que souber unir conhecimento técnico a habilidades digitais e visão sustentável terá vantagem”, afirma Karen Cubas, gerente da UnIBP, a Universidade do Setor de Petróleo e Gás.

Para atrair talentos, empresas reforçam programas de trainee, criam parcerias com universidades e oferecem pacotes de remuneração e benefícios acima da média. Iniciativas de capacitação contínua, como o programa Offshore do Futuro — desenvolvido pela UnIBP em parceria com Equinor e SBM Offshore — formam profissionais já alinhados às demandas do mercado.

Para especialistas, o caminho para os interessados em ingressar na área passa por uma combinação de educação técnica, habilidades digitais e competências comportamentais. Estágios, programas de trainee, congressos e feiras do setor funcionam como portas de entrada. E acompanhar publicações especializadas, como o Observatório do Setor, é essencial para entender tendências e oportunidades.

“O grande desafio é preparar gente para ocupar essas posições. Porque, é uma indústria que continua estratégica e cheia de possibilidades de crescimento”, resume Karen Cubas.