Acender a luz, cozinhar refeições, locomover-se ao trabalho ou à escola. Todas essas atividades requerem energia, que vem de diversas fontes. Muito além dos debates sobre o impacto no meio ambiente, ela tem um impacto direto na saúde, bem-estar e qualidade de vida da sociedade. Por isso, no Dia Mundial da Energia – celebrado em 29 de maio -, o Além da Superfície joga luz sobre a pobreza energética, termo que se refere à falta de acesso aos serviços energéticos modernos.
Segundo a edição de 2024 do Tracking SDG 7: The Energy Progress Report – relatório elaborado conjuntamente pela Agência Internacional de Energia (AIE), Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), Divisão de Estatística das Nações Unidas (UNSD), Banco Mundial e Organização Mundial da Saúde (OMS) -, o mundo segue longe de alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7, focado em garantir o acesso à energia limpa e acessível para todos até 2030.
De acordo com o documento, pela primeira vez em mais de uma década, o número de pessoas sem acesso à eletricidade aumentou à medida que a população cresceu — principalmente na África Subsaariana — a uma taxa superior à das novas conexões elétricas, deixando 685 milhões de pessoas sem eletricidade em 2022, 10 milhões a mais do que em 2021. Além disso, 2,1 bilhões de pessoas ainda estariam vivendo com combustíveis e tecnologias poluentes para cozinhar.
Dados mais recentes do IBGE apontam que, em 2023, o acesso à energia elétrica nos domicílios foi quase universal: 99,8%. Mesmo com o alto índice de cobertura, ainda há desafios: cerca de 1,9% (1,4 milhão) de domicílios não têm eletricidade em tempo integral e, segundo a ANEEL, 2,2 milhões de famílias de baixa renda que tinham acesso à eletricidade com tarifa social consumiam até 30 kWh/mês, o que seria o suficiente para manter ligada apenas uma geladeira, além de uma ou duas lâmpadas.
Para além do acesso contínuo, ainda há questões sociais. Um levantamento encomendado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), em 2021, já revelava que o gasto com gás e energia elétrica comprometia “metade ou mais da renda de 46% das famílias brasileiras, sendo que 10% comprometem quase toda a renda familiar com esses gastos, 12% mais da metade da renda familiar e 24% a metade da renda familiar”.
Segundo pesquisa encomendada pelo Instituto Pólis também ao Ipec, em 2023, 36% das famílias brasileiras gastam metade ou mais da sua renda mensal com energético para cocção de alimentos e energia elétrica. Para metade dos respondentes, gastos com alimentação e energia são os que mais impactam o orçamento doméstico e, nas regiões Norte e Nordeste, a energia elétrica é o item que mais pesa no orçamento das famílias.
Os dados mostram que garantir o fornecimento contínuo de energia é fundamental, já que o seu acesso ainda precisa ser ampliado. Por isso, a transição energética deve ter como objetivo também a erradicação da pobreza energética, realizando o seu processo de forma gradativa e justa.
“A pobreza energética vai além de não estar conectado à rede. O acesso à energia é fundamental para a vida como vemos hoje. Por isso o processo de transição precisa ser feito de forma justa, equitativa e equilibrada, garantindo a segurança energética sem deixar ninguém para trás”, explica Isabella Costa, Gerente de Análises Técnicas do IBP.