Corrida por IA eleva demanda por energia e renova papel do petróleo

IBP
Publicado em 26 de setembro de 2025

*Por Caio Mello, do Meio.

 

A inteligência artificial já faz parte do cotidiano de pessoas e empresas. Seu uso, robusto em algumas situações, faz aumentar a demanda por energia. Modelos de IA que treinam por semanas ou até meses exigem uma infraestrutura elétrica robusta, com servidores que nunca desligam e sistemas de refrigeração potentes. No Brasil, data centers, como o que foi inaugurado em Barueri no ano passado, consomem energia comparável à de regiões metropolitanas inteiras. E isso representa um novo patamar de demanda que o sistema elétrico precisa absorver.

 

Essa pressão energética se soma aos efeitos do estilo de vida moderno e o aumento do uso de energia justamente por conta do calor. Seja pelo ar-condicionado, veículos elétricos ou dispositivos que não desligam, o uso intensivo de energia doméstica e urbana já responde por grande parte do aumento da demanda elétrica global. Dados recentes mostram crescimento anual de 4,3% no consumo de eletricidade em 2024, e a previsão é que esse ritmo se mantenha até 2027, com parte significativa vindo de economias emergentes, como o Brasil.

 

O país, por sua vez, tem vantagens comparativas enormes no aspecto da energia, ainda que tenha mazelas a resolver, como a própria universalização do sistema elétrico, bem como que a energia seja um direito acessível. Cerca de metade da oferta de energia gerada no Brasil é renovável, com fontes hidrelétricas, eólicas e solares. Somado a isso está a produção de biocombustíveis e o fato da produção de petróleo ter emissão de carbono muito baixa em relação à média global. A matriz energética atual já incorpora parte do futuro que muitos países buscam, mas isso não significa que o Brasil está pronto para atender às demandas e os desafios futuros. 

 

O boom energético trazido pela IA e o novo padrão de vida necessitam de investimentos em transmissão, ligação de novos centros de dados e adaptação de redes extensas. O petróleo e o gás natural continuam sendo centrais nesse processo. Mesmo em cenários onde a meta é limitar o aquecimento global a 1,5 °C, projeções da Agência Internacional de Energia estimam que em 2050 ainda haverá demanda significativa por petróleo para fins não energéticos, utilizado na produção de plásticos e fertilizantes, e por gás para produção de hidrogênio ou para dar suporte às energias renováveis nos momentos de fragilidade de oferta. Logo, a transição energética precisa ser gradativa e formulada para atender a crescente demanda de energia, objetivando a adaptação da economia às novas tendências tecnológicas, ambientais e sociais. 

 

Nos últimos anos, a inovação no setor de óleo e gás desponta como um pilar indispensável para a indústria. Os investimentos em tecnologias com baixa emissão de carbono, captura de CO2, produção de hidrogênio verde e sistemas híbridos cresceram fortemente, e o número de projetos ligados a essas áreas quadruplicou entre 2018 e 2023. Levando em consideração os recursos ainda crescentes, a indústria mostra disposição em assumir parte do ônus da adaptação.

 

Se a economia do Brasil ainda depende de combustíveis fósseis, do ponto de vista ambiental não há margem para erro, pois mais eletricidade significa mais desafios ao setor de energia. A própria refrigeração necessária nos data centers apresenta uma demanda adicional ao sistema energético e ao abastecimento de água. Nesse cenário, por um lado, o país tem matriz energética renovável, por outro, gargalos elétricos e licenças ambientais pouco claras deterioram esse potencial.

 

No plano regulatório, projetos como o do regime especial para data centers, denominado ReData, propõem incentivos fiscais, inclusão de cenários digitais nos planos decenais de energia, além da exigência de energia de baixo carbono para empreendimentos dessa natureza, indicando a busca por uma resposta institucional. 

 

Para além da conjuntura, o desafio central também é estruturar a evolução energética para que a transição seja justa, sustentável e segura. Ou seja, garantir que o consumidor moderno não pague mais caro por usar ferramentas de IA, cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade. Outro desafio segue sendo que a energia esteja disponível sem interrupções em todo território nacional. Com a transição energética gradativa e garantindo a segurança do abastecimento, o Brasil pode se tornar um polo global de energia, tecnologia e sustentabilidade, mas para isso é preciso unir inovação, governança, capacidade institucional e compromisso ambiental.