A transição energética, um dos temas centrais no combate às mudanças climáticas, já é uma realidade e avança globalmente. Nesse contexto, o Brasil desponta com inúmeras vantagens: tem 49% da sua oferta de energia proveniente de fontes renováveis, ou seja, tem no presente um cenário interno que é meta de muitos países para o futuro. É o 2º maior produtor mundial de biocombustíveis, com potencial para expansão, além de ter uma produção de petróleo com intensidade de carbono equivalente à metade da média mundial.
Embora o compromisso com a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) seja cada vez mais forte, alavancado pelo Acordo de Paris – cujo principal objetivo é limitar o aumento da temperatura global neste século abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços extras para limitá-lo a 1,5°C – e pela agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), as principais projeções apontam que um futuro descarbonizado não vai acontecer sem fontes fósseis. O conceito de “evolução energética” é uma resposta à complexidade da transição justa e segura para uma economia de baixo carbono.
Pensando nisso, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) lançou a campanha “Energia da Evolução”, que leva ao conhecimento do público como a indústria de petróleo e gás (O&G) será uma importante aliada para uma transição energética justa e segura para todos os brasileiros. Isso reflete uma abordagem mais realista e gradual, em que fontes fósseis ainda serão essenciais, tanto para a segurança energética quanto para o financiamento de tecnologias que impulsionarão a transição para fontes renováveis.
“A transição não é um processo de substituição abrupta, mas uma evolução que incorpora múltiplas fontes e tecnologias ao longo do tempo. O setor de petróleo e gás está integralmente comprometido com essa evolução, deixando um legado de conhecimento que será incorporado em outros segmentos, e tem ainda um papel essencial a cumprir para fins energéticos e não energéticos”, afirma Roberto Ardenghy, Presidente do IBP.
Nos últimos 25 anos, a expansão da indústria brasileira de O&G permitiu reduzir a vulnerabilidade externa e garantir uma fonte de energia firme, eficiente e acessível para os planos de desenvolvimento nacional. Em 2023, ela respondeu por 45% da oferta de energia primária no Brasil, consolidando sua importância para assegurar a segurança energética e a soberania nacional, enquanto o sistema energético avança na incorporação de outras fontes de energia de baixo carbono com a escala, a eficiência e a acessibilidade necessárias ao fornecimento adequado aos consumidores brasileiros.
Nesse sentido, o gás natural assume um papel muito importante no setor elétrico, servindo como fonte de apoio e dando lastro à geração de energia eólica e solar, que vêm demonstrando crescente participação no mix energético brasileiro. O insumo também é uma alternativa importante para contribuir para a descarbonização na indústria, operando como uma fonte de energia firme em setores hard-to-abate – como são chamados aqueles segmentos da economia que apresentam desafios significativos para a transição para uma economia de baixo carbono – como, a mineração, siderurgia, cimento, entre outras.
Apesar do entendimento sobre a necessidade de reduzir o consumo de combustíveis fósseis, não existe um consenso sobre o momento em que o mundo atingirá o pico da demanda de petróleo. Todas as projeções indicam, no entanto, que o consumo continuará, ainda que em volumes menores, principalmente para fins não energéticos.
O petróleo, por exemplo, é um insumo vital na indústria petroquímica, que transforma a matéria-prima em plásticos, fertilizantes, solventes e inúmeros outros produtos químicos que são fundamentais para diversos setores, incluindo agricultura, saúde e manufatura. Já o gás natural é uma fonte importante de matérias-primas para a produção de hidrogênio e amônia, utilizados na fabricação de fertilizantes e na indústria química.
Dados da Agência Internacional de Energia (AIE) mostram que, mesmo em cenários de baixa emissão, o consumo de petróleo e gás para fins não energéticos permanecerá significativo, o que reforça a necessidade de manter a produção e o desenvolvimento tecnológico nesse setor.
De acordo com o cenário Net Zero Emissions (NZE), a agência ainda estima que, apesar de a produção de petróleo e gás ser amplamente reduzida, ela não desaparece. Mesmo em um cenário onde a comunidade internacional consegue manter a elevação da temperatura global abaixo de 1,5 °C, estima-se que cerca de 24 milhões de barris de petróleo por dia continuarão a ser produzidos em 2050, dos quais, três quartos seriam utilizados em setores onde o petróleo não é queimado. Na mesma projeção, a agência estima uma demanda de gás natural de cerca de 920 bilhões de m³, dos quais, aproximadamente metade seria usada para a produção de hidrogênio (AIE, 2023).
A indústria de óleo e gás (O&G) desempenha ainda um papel crucial na inovação tecnológica voltada para a transição energética de baixo carbono. Segundo a AIE, 35% da redução de emissões de GEE associadas ao setor energia que são necessárias até 2050, advém de tecnologias que ainda se encontram em estágios iniciais de desenvolvimento e não atingiram escala comercial. Para que essas soluções sejam viáveis e disponíveis na escala necessária, segundo a entidade, é essencial que haja investimentos contínuos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Desde 1998, a indústria brasileira de O&G tem investido significativamente nessa área, alocando R$ 30,2 bilhões em recursos por meio da cláusula de PD&I nos contratos de exploração e produção de óleo e gás.
Nos últimos anos, esses investimentos têm se concentrado cada vez mais em projetos de eficiência energética e fontes de energia de baixo carbono. O número de projetos relacionados a essas áreas quadruplicou em cinco anos. Passou de 25 em 2018 para 91 em 2023, enquanto os investimentos tiveram um crescimento substancial, passando de R$ 46 milhões para R$ 782 milhões no mesmo período. Em 2023, os recursos foram majoritariamente direcionados para biocombustíveis (35%), seguidos por energia eólica (28%), hidrogênio (13%), captura e armazenamento de carbono (CCUS) (9%), sistemas híbridos (9%), energia solar (6%) e energia dos oceanos (1%).
O conceito de “transição justa” pode ter diferentes conotações, mas no setor de energia vem sendo frequentemente associado à adoção de critérios e medidas para mitigar o impacto econômico e social negativo atrelado ao processo de transição energética em países, regiões, indústrias, localidades, trabalhadores e consumidores. A sua discussão é especialmente importante em países produtores de O&G, já que eles são economicamente dependentes da atividade petrolífera, e uma transição não planejada pode acarretar efeitos econômicos, sociais e políticos.
No Brasil, particularmente, as atividades do setor de O&G representaram 17% do PIB industrial em 2021 e sustentam 1,6 milhões de empregos, tanto diretos quanto indiretos. No aspecto social, o setor é uma fonte significativa de receitas para a União, estados e municípios, permitindo o financiamento de políticas públicas essenciais em áreas como educação, saúde e bem-estar social. Esses recursos são cruciais para enfrentar a pobreza e reduzir a desigualdade no país. Nos últimos quinze anos, a indústria gerou mais de R$ 2,8 trilhões por meio do pagamento de royalties, participações especiais, bônus de assinatura e tributos.