“Transição energética é uma agenda de todos”

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ATUALIZADO EM novembro 2020

Um dos temas mais relevantes da agenda internacional, a transição energética é um dos eixos da programação da Rio Oil & Gas. Nesta conversa com o Além da Superfície, Edmar de Almeida, professor do Instituto de Economia da UFRJ, pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio e chair do comitê temático deste assunto, detalha a programação e os principais desafios da indústria de óleo e gás nesta agenda, como descarbonização, atração de investimento, tecnologia, licença para operar e resíduos plásticos. Na opinião de Almeida, a transição energética é uma agenda de todos – governos, empresas, sociedade -, e vai exigir uma “mobilização global”. “É uma mudança numa escala que nunca se viu. Está em vias de se tornar uma nova utopia internacional”, afirma. Para o pesquisador, “estamos vivendo a utopia do planeta sustentável”. Confira os principais trechos da entrevista.

A pandemia tornou ainda mais evidente o debate sobre a transicão energética. De que forma, o assunto estará presente na Rio Oil & Gas?
Este ano, pela primeira vez, a Rio Oil & Gas terá um eixo da sua programação dedicado à transição energética. Nas edições anteriores esse assunto aparecia dentro de debates de outros eixos temáticos. Diante da sua relevância, o comitê organizador decidiu criar um bloco especial, trazendo esse assunto para o contexto da indústria de óleo e gás (O&G).

Um dos temas que vamos abordar é a licença para operar e o papel do setor de O&G na transição. Sabemos que a transição virou uma demanda da sociedade, que colocou isso como prioridade. Nesse contexto, para que as empresas obtenham a licença para operar, elas precisam ter uma estratégia vinculada à transição.

A outra questão que vamos discutir é como a transição será feita. Vamos abordar os três vetores desta transformação em curso: tecnologia, investimento e mercado de carbono. Teremos também uma sessão sobre a descarbonizacao, como a indústria de O&G pode se descarbonizar, fazer com que seus processos produtivos se tornem mais sustentáveis. Vamos apresentar o que as empresas estão fazendo nesse sentido. Temos ainda uma sessão sobre os resíduos plásticos, onde vamos discutir soluções e estratégias para tratar essa questão por parte das empresas e também por meio de políticas públicas.

O senhor falou em tecnologia, investimento e o mercado de carbono, como esses três vetores afetam a transição?
Entendemos que esses são os principais vetores da transição. A tecnologia certamente tem um papel fundamental neste processo, principalmente as tecnologias disruptivas. Estamos falando sobre eletrificação no setor de transportes, digitalização e novos paradigmas tecnológicos no próprio setor, como o hidrogênio e a pilha combustível. Sobre investimentos, o mercado de capitais é hoje um vetor importante. Há novos mecanismos de financiamento – como climate bonds, greeen bonds – e uma nova seletividade por parte dos grandes grupos financeiros. Já o mercado de carbono, queremos abordar como ele pode influenciar na alocação de capitais nesse processo de descarbonização. O mercado de carbono é uma oportunidade. Vai premiar as tecnologias e os processos menos intensivos em carbono, inclusive empresas de O&G. O petróleo brasileiro, por ter alta produtividade, emite pouco. Em média, cada barril produzido aqui emite metade de C02 da média mundial.

Outro tema relevante é a redução dos resíduos plásticos. Quais os desafios para superar esse problema?
Certamente a tecnologia deve ser uma aliada neste processo, mas não é só isso. Esse tema precisa ser trabalhado em várias dimensões, como reciclagem, regulação do uso, além das especificações do produto, ser mais biodegradável. Esta é uma agenda que o Brasil precisa avançar e outra novidade que estamos trazendo para esta edição da Rio Oil. O objetivo é justamente apresentar experiências e melhores práticas já em andamento em outros países e no Brasil e ver quais políticas e estratégias são adequadas ao nosso país.

Como o senhor enxerga o papel da sociedade nesta transição energética?
A questão fundamental é que este é um problema global e não local. Só vai ter efeito se houver mobilização global, um consenso universal, o que nunca aconteceu no mundo. Em termos de alinhamento, de consenso e de paradigma, é uma mudança numa escala que nunca se viu. Está em vias de se tornar uma nova utopia internacional. Em toda sua história, a sociedade tem vivido ciclos de importantes utopias. E agora estamos vivendo a utopia do planeta sustentável. Isso é muito forte.

Em todo o mundo, as novas gerações partilham essa nova visão de que devemos perseguir a sustentabilidade. E isso está se tornando um consenso político. independente da orientação ideológica. Não há mais espaço para dizer que é contra o combate à mudança climática. Além disso, preservar a natureza é um bem em si. Superamos a etapa do acredito ou não acredito e a agora o desafio é fazer uma transição mais justa, porque as soluções precisam ser eficazes e para todos.

Esta é uma questão que não está restrita aos governos.
Exatamente. Mas os governos, como representam a sociedade perante outros países, têm um papel muito importante. Acredito que cada vez mais os países alinhados nesse processo terão benefícios e os que não estiverem, terão problemas. A dimensão da sustentabilidade e da descarbonização também precisa estar incorporada na estratégia da iniciativa privada. O setor que não fizer pode estar cometendo um suicídio, tende a se inviabilizar do ponto de vista econômico e político a médio e longo prazo. Esta é uma agenda de todos.

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